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Ribeirão Varre-Sai

Por Arthur Soffiati

Por duas vezes, estive na cidade de Varre-Sai, no extremo Noroeste Fluminense. O núcleo urbano ergueu-se numa zona montanhosa no século XIX. Minha atenção se voltou para o riacho, que corre num vale cercado pela zona urbana. Ele ganhou o mesmo nome da cidade. Tanto seus moradores quanto os artigos acadêmicos entendem que o córrego banha a cidade, em vez de dizer que ela se ergueu em suas margens. 

Minha relação com os riachos é grande e afetuosa. Gosto muito dos diminutos cursos d’água. Procurei o ribeirão Varre-Sai nos registros históricos. Encontrei apenas a menção de Manoel Basílio Furtado, em fins do século XIX, como afluente do rio Itabapoana (FURTADO, Manoel Basílio. Itinerário da freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana à Gruta das Minas do Castelo. Campos dos Goytacazes, Essentia, 2016).

Já foram efetuadas análises fisico-químicas de sua água. Consultei dois artigos científicos. Nenhum dos dois empreende análise de paisagem (NUNES, Carolina Ramos de Oliveira; MILLER, Daniella Honorato Mesquita; ARAÚJO, Thiago Moreira de Rezende e OLIVEIRA, Vicente de Paulo dos Santos de. Sensibilização ambiental de alunos da educação básica do município de Varre-Sai/RJ a partir da avaliação da qualidade da água do Ribeirão Varre-Sai. Boletim do Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego v. 13, nº 1. Campos dos Goytacazes: Essentia, jan/jun 2019; e FILHOR, Manoel Duarte Ramos; ROSA, João Lucas Meneses; SAROBA, Cileny Carla; THOMÉ, Marcos Paulo Machado. Descrição do processo de recuperação da mata ciliar de um riacho no município de Varre-Sai/RJ. Descrição do processo de recuperação da mata ciliar de um riacho no município de Varre-Sai/RJ. Revista Interdisciplinar Pensamento Científico, v. 1 nº 1, janeiro-junho de 2015). 

O relevo serrano é acidentado. Estima-se que a nascente do ribeirão Varre-Sai situe-se a mais de 700 metros de altitude. Toda essa topografia acidentada era, há cerca de 300 anos, coberta de florestas das quais restaram manchas. O plantio de café suprimiu progressivamente a densa mata. O resultado foi a erosão das encostas e a sedimentação dos pequenos cursos d’água. Situado num vale, o ribeirão Varre-Sai foi assoreado.

Encosta escalvada em Varre-Sai. Pastagem pobre. Foto do autor

O tratamento dado a ele, no trecho em que a cidade cresceu, foi canalizar o seu leito. Ele passou a receber esgoto, como demonstra um dos estudos. Sua água poluída é ainda captada para abastecimento público depois de passar por tratamento.

O município de Varre-Sai não está fora do mundo, como nenhum em todo planeta. Todos eles contribuiram para as mudanças climáticas em menos ou maior escala. A contrbiuição de Varre-Sai foi com o desmatamento. As florestas detinham bastante o escoamento superficial das águas pluviais. Removidas, o solo ficou exposto, permitindo que as águas de chuva corram superficialmente, carreando solo, entupindo os rios e provocando transbordamento. Foi o que aconteceu em fevereiro de 2024: as chuvas intensas correram para o ribeirão Varre-Sai, que transbordou. Aparece, então, um político que consegue do governoestaudual retirar material sedimentado no leito do rio, como se essa fosse a solução adquada, como aconteceu em no verão de 2025. Atualmente, a medida para mitigar enchentes e transbodamentos não é retirar mateiral sólido dos leitos, mas impedir o mais possivel que se depositem neles. Mas todo o município é vulnerável a deslizamentos e a desmoronamentos. O segredo está nas florestas. Elas não podem mais voltar à extensão do século XVIII, mas podem ser cultivadas e mantidas em pontos críticos. 

Ribeirão Varre-Sai, canalizado no trecho urbano. Foto do autor

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