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Cuidados com a voz de crianças que cantam

As crianças têm descoberto o canto como profissão, mas seus pais devem estar cientes de alguns fatores

A voz de uma criança cantando sempre emociona e nos faz acreditar na vida e em algo bom. Não há quem as escute e não se emocione. A voz cantada das crianças é única e diferente da voz cantada dos adultos em termos de sonoridade, de extensão e expressão.
Divulgação | Reprodução
O Coral dos meninos de Viena, formado por garotos e um dos corais infantis mais conhecidos no mundo, sempre inebriou os ouvidos do mundo com suas vozes límpidas e cristalinas. Há nomes que se tornaram famosos desde muito cedo tais como Shirley Temple, Judy Garland, Liza Minnelli, Michael Jackson, Justin Bieber, Shawn Mendes, Miley Cyrus, Sandy e Junior, A Turma do Balão Mágico e muitos outros encantaram grandes audiências e inspiraram gerações de crianças para o canto e a expressão musical e artística.

Atualmente, vivemos uma febre de musicais e este estilo encontrou nas crianças um público fiel e apaixonado. Elas conhecem todas as melodias, imitando seus personagens e coreografias. Muitos têm seus ídolos na música pop e suas canções prediletas neste estilo.

O canto sertanejo também tem trazido cantores mirins que se espelham em seus cantores favoritos com seus estilos de voz de forte emissão. As crianças têm apreciado, a cada dia mais, o canto como profissão e seus pais e responsáveis devem estar cientes de alguns fatores.

Estes 3 estilos - musicais, pop e sertanejo - exigem uma performance de maior intensidade vocal, maior extensão, com maior demanda muscular e respiratória. Portanto, é muito importante que estas crianças cantoras sejam preparadas e orientadas devidamente: por professores de canto bem preparados e que conheçam a fisiologia e o funcionamento do aparelho fonador de crianças e de adultos, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. A boa formação vocal e musical e a informação sobre os cuidados com sua saúde vocal são de extrema importância para a manutenção de suas vozes.

Desde muito cedo, lá pelos 5, 6 meses de idade, os bebês conseguem imitar tons e sons que ouvem. E o que chamamos de "canto decidido", o cantar de uma melodia, pode começar por volta dos doze meses. Algumas crianças, porém, poderão precisar de um pouco mais de ajuda para descobrir e desenvolver a sua voz. São as crianças que costumam cantar com um alcance um pouco limitado e dificuldades com a tonalidade. Isso não indica falta de habilidade ou mesmo de potencial, mas, às vezes, uma falta de desenvolvimento vocal e de experiência com a expressão e o universo musical.

Quanto mais expostos ao canto, à música e à expressão artística, estes pequenos poderão desenvolver o uso de suas vozes cantando bem por durante os anos de sua infância e mesmo durante e após os anos de puberdade. Dificuldades, no entanto, também podem ser o indicativo de algum problema no seu aparelho vocal. E nestas situações é muito importante que se busque o diagnóstico de um otorrinolaringologista e a terapia de um fonoaudiólogo.

O professor de canto irá preparar a voz, as entonações e precisões das notas, assim como uma boa interpretação. O otorrinolaringologista irá diagnosticar caso algo não esteja bem e encaminhará este paciente para a terapia com um fonoaudiólogo para que trate o problema.

Três profissionais, três funções diferentes

O aparelho vocal da criança é semelhante em meninos e meninas. As suas pregas vocais (o que antigamente era chamado de cordas vocais) e todo o aparelho fonador com suas cartilagens, músculos e ligamentos têm um mesmo tamanho, embora esta configuração mude na puberdade. Neste momento há uma mudança vocal muito maior nos meninos, que passarão a ter uma laringe e as pregas vocais maiores do que as das meninas. A época da puberdade é um momento vocal delicado e que exige um pouco mais de atenção e cuidado. Para que possamos falar ou cantar precisamos da respiração e do nosso aparelho vocal.

E o que é o nosso aparelho vocal? Ele é constituído pelas nossas pregas vocais, pela faringe, língua, lábios e o nariz. O ar que sai dos pulmões, passa pelas nossas pregas vocais, e assim começa a produção da voz. Este ar sonorizado (como o som que sai do bocal de um balão de borracha quando o esticamos para deixar sair o ar) vai ser amplificado nas nossas "caixas de ressonância", que são a nossa faringe, a boca e o nariz. Todo esse mecanismo é muito inteligente, rápido, mas requer alguns cuidados a que chamamos de Saúde e Higiene vocal. Ela ajudará a manter o aparelho vocal saudável e com vida longa.

A disfonia infantil (a criança que fica rouca e perde o som da voz ou a qualidade vocal) é um tema muito atual e requer bastante atenção. No caso de crianças que cantam o cuidado e a atenção deverão ser maiores, pois há uma exigência maior deste aparelho vocal.

Cuidados para as crianças que cantam:
  • Tonalidade da música: a criança deverá cantar sempre num tom adequado à sua voz
  • Percepção dos registros vocais: para execução de melodias com maior extensão é preciso que ela saiba mudar e acessar os diferentes registros vocais quando for necessário

Cuidados com a saúde e a higiene vocal, tanto para a fala quanto para o canto:

Hidratação: a mucosa que reveste as pregas vocais precisa de muita hidratação para que possa vibrar de maneira adequada e para que tenha maior flexibilidade. Existe a hidratação indireta (tomar água) e a direta (fazer inalação com soro fisiológico, ou cheirar uma gaze úmida com soro fisiológico). Beba muita água! Para as crianças é indicado de 5 a 6 copos de água por dia, no mínimo. Tenha sempre um inalador para que a criança possa hidratar seu aparelho vocal com o vapor do soro fisiológico.

Falar e cantar sem esforço: cantar e falar não exigem força, mas sim, um bom suporte respiratório e uma boa articulação dos sons.

Evitar tossir ou pigarrear excessivamente: a tosse e o pigarro fazem com que as pregas vocais se "choquem" de maneira mais brusca, podendo causar dano em sua delicada mucosa

Evitar cantar ou falar excessivamente em ambientes barulhentos: é o que chamamos de competição sonora. Evite sempre a competição sonora, pois ela nos faz falar e/ou cantar com um esforço muito grande. Se é muito importante o que se quer falar, vá a um local menos barulhento e fale. No caso do canto, é muito importante que a criança tenha um bom retorno de voz, ou seja, que se escute, para que possa cantar sem o esforço exagerado

Evitar imitar vozes e ruídos: as crianças gostam de imitar personagens, sons engraçados de bichos e sons diferentes, mas, muitas vezes, isto significa um esforço vocal muito grande. Ou porque saem de suas regiões naturais da voz, ou porque exageram no volume colocando grande esforço na emissão, ou os dois.

Evitar utilizar sons demasiadamente graves ou demasiadamente agudos: devemos falar numa região confortável e que seja agradável aos nossos ouvidos. Se uma criança fala grave demais ou agudo demais estará utilizando sua voz numa região não natural, portanto, não saudável. Se canta fora de seu alcance vocal também estará arriscando machucar sua voz.

Evitar cantar ou falar excessivamente durante quadros gripais: falar ou cantar quando se está gripado ou resfriado significa trabalhar uma região que já está um pouco edemaciada (inchada) podendo levar à rouquidão. Repouso vocal é bom nestas ocasiões.

A música é uma arte presente na história da humanidade desde sempre. O canto sempre foi uma forma de expressão libertadora. Para a criança, a música representa a possibilidade da expressão de ideias, emoções e habilidades. Uma voz saudável é uma voz que pode se expressar livremente. Vamos cuidar e tratar de nossas vozes!

Referências bibliográficas:
Behlau M, Pontes P, Moreti F. Higiene Vocal - Cuidando da Voz. 5 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2016.
Dias, M R, Oliveira, A M R, Bastos, A C M. Da garganta vem a voz: um projeto de educação para a saúde. Distúrbios Comun. São Paulo, 27(1):182-191, março, 2015
Gohn, M G, Stavracas, I. O Papel da Música na Educação Infantil. EccoS Revista Científica, São Paulo, 12 (2): 85-103 ,julho-dezembro, 2010
Levinowitz, L. M. (1998). The Importance of Music in Early Childhood. General Music Today, 12(1), 4?7. https://doi.org/10.1177/104837139801200103
Pinho, S M, Jarrus, M E, Tsuji, D H. Manual de Saúde Vocal Infantil. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.



Claudia Fier | Fonoaudiologia - CRFa 2-19969/SP | Minha Vida

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