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As chuvas de 2013


Por Arthur Soffiati


Por que esquecemos acontecimentos marcantes tão rapidamente nos dias de hoje? Para a maioria, a memória alcança a infância já avançada, em torno dos seis-oito anos de idade. A maior parte de passagens da nossa vida é esquecida. Lembramos dos namoros, do casamento, do nascimento de filhos e netos, de separações, de morte de parentes etc., principalmente no âmbito de nossa família e das famílias de amigos. Lembrar de acontecimentos anteriores ao nosso nascimento ou daqueles que ocorrem no curso da nossa vida, mas que não nos atingem pessoalmente ou a nossos amigos e familiares, é coisa para historiador, se tanto.


Como veremos esse ano de pandemia? Alguns dizem que o mundo será diferente quando ela for controlada. Será? Da minha parte, não acredito que essa oportunidade de repensar a vida individual e coletiva seja aproveitada. Muitas pessoas já manifestam cansaço com ela e voltam ao cotidiano, frequentando festas clandestinas e deixando os cuidados necessários de lado sem se preocupar com parentes mais idosos e com a doença e a morte. Empresários e governantes só falam na retomada do desenvolvimento e do crescimento. Foram eles que, de maneira muito acentuada, levaram à eclosão e à disseminação da pandemia. 


A Peste Negra, do século XIV, foi lembrada nos séculos XV e XVI e retratada em telas. A Gripe Espanhola não ganhou uma obra de arte marcante. Já andei procurando alguma e só encontrei o registro tardio de Valêncio Xavier, com o “Mez da grippe”, livro de 1981 sobre a Gripe Espanhola em Curitiba. O livro resulta de pesquisa em jornal e não da vivência direta do autor. Parece que, com o passar do tempo, a vida se torna mais veloz e a memória não consegue reter o curso da história.


Quem lembra do desastre ambiental que afetou o Paraíba do Sul em 1982, causado pela empresa Paraibuna Metais? Da enchente de 1997, 2008-9, 2012, 2013 na região norte-noroeste fluminense? Da grande enchente de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro? Da estiagem de 2014-16 no Sudeste do Brasil? Dos desastres ambientais de 2020, tanto com água quanto com fogo? Além do imediatismo, a economia de mercado cultiva em nós o individualismo e o consumismo. Não nos interessa o que acontece ao nosso redor, mas apenas nós mesmos. A pandemia deverá ser mais lembrada por estar presente no mundo todo ao mesmo tempo e afetar muitas pessoas. As catástrofes climáticas ocorrem de forma regionalizada e por tempo mais curto. Vão se lembrar dela aqueles que perderam bens materiais e vidas de parentes. No mais, eles e seus efeitos serão assunto de pesquisadores.

 

Sou pesquisador, mas faço registros de catástrofes climáticas como cidadão comum. Cultivo memórias de ocorrências ao longo da minha vida, como a enchente de 1966, por exemplo, e daquelas anteriores ao meu nascimento. Organizando meu acervo informatizado, encontrei notas e imagens das chuvas de 2013, já esquecidas pela maioria. Já disse e repito que nunca me falta assunto para escrever. O que me falta é tempo. Pode parecer anacrônico, mas considero importante deixar um registro sobre as chuvas daquele ano, que, para nós, parece longínquo.


Procurei enfatizar os desastres ocorridos pelo excesso de chuvas no território que denomino de Ecorregião de São Tomé. Trata-se de um recorte que se estende, na costa, da foz do rio Itapemirim à foz do rio Macaé, estendendo-se para o interior até a microrregião homogênea de Muriaé, na Zona da Mata Mineira. Ela segue, portanto, limites naturais e históricos, ultrapassando os limites administrativos de estados e municípios. Nessa grande região, assinalei os locais afetados pela chuva.

Cidades e locais atingidos pela enchente de 2013 na Ecorregião de São Thomé


Elas afetaram as bacias hídricas que irrigam a ecorregião: Itapemirim, Itabapoana, Guaxindiba, Paraíba do Sul, sistema Ururaí e Macaé.


Bacia do Itapemirim


Em 12 de dezembro de 2013, o Instituto Capixaba de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão rural (Incaper) informava que “O volume de chuva registrado no Espírito Santo superou o esperado para o mês em diversos municípios. A Região Sul do Estado foi a mais atingida, de acordo com a equipe de meteorologia do Incaper. No interior, diversas estradas rurais foram interditadas devido ao deslizamento de barreiras. O escoamento da produção leiteira em alguns municípios está comprometido.” E continuava: “Em Cachoeiro de Itapemirim, a Fazenda Experimental do Incaper ficou alagada. Só em dezembro, o volume de chuva registrado em Pacotuba chegou a 284,4 mm, recorde no ano. Em Rio Novo do Sul, o acumulado do mês é de 163,8 mm, registrados até o início da manhã de 12/12/2013. O Rio Muqui está acima do nível normal e invadiu casas e lojas em Mimoso do Sul O acumulado do mês de dezembro no município é de 221,2 mm de chuva, que continua na região. Em Muqui, técnicos do Incaper e da Prefeitura percorreram alguns dos pontos mais críticos. Uma barragem rompeu na região de Murubia. Em Alegre, desde o dia 1° até às 10 h da manhã de 12/12/2013, o acumulado de chuva no município chega a 249,2 mm. Faltam apenas 10 mm para que atinja o esperado para todo o mês de dezembro no município. Em Iconha, o volume de chuva registrado chegou a 61,5 mm. Em Castelo, uma ponte caiu na comunidade de São Pedro. O Rio Castelo está 3,5 acima do nível normal.”

Rio Itapemirim em dezembro de 2013

E concluía com dados de precipitação pluviométrica: Rio Novo do Sul: 116, 2 mm; Alegra: 109, 5 mm; Cachoeiro de Itapemirim: 95, 4 mm; Guaçuí: 80,2 mm; Mimoso do Sul: 65,6; Viana: 58,8 mm; Presidente Kennedy: 36,2 mm. Em Mimoso do Sul, margem direita do Itapemirim, as chuvas castigaram o campo e a cidade.

Mimoso do Sul em dezembro de 2013

Bacia do Itabapoana

Com relação à bacia do rio Itabapoana, o “Blog do Frederico Sueth” anunciava em 12 de dezembro de 2013: “Aos condutores que terão que trafegar pela RJ-230 na região serrana do município (de Bom Jesus do Itabapoana) todo cuidado é pouco, pois somente entre Calheiros e Barra temos dois pontos de deslizamento de encostas que já oferece perigo a quem transita naquele trecho da rodovia.”


Em certos pontos de Bom Jesus do Itabapoana, era mais fácil transitar de barco que a pé ou de automóvel.

Bom Jesus do Itabapoana em dezembro de 2013

A rodovia estadual RJ-230, que liga a BR-101 a Porciúncula, passando por diversos lugares da região serrana da bacia do Itabapoana, sofreu avarias. Houve um rompimento nela em local que, em vez de ponte, o escoamento hídrico se processava por um bueiro metálico. Algo bem típico da engenharia de estradas do Brasil.

Rompimento da RJ-230 na zona serrana alta de Bom Jesus do Itabapoana
Manilha metálica sob a RJ-230 arrastada pela enxurrada em dezembro de 2013

No mesmo dia 12 de dezembro, o Jornal Ururau anunciava que “Duas casas foram completamente destruídas depois de um escorregamento de terra e outras cinco ficaram comprometidas na cidade de Varre-Sai, no Noroeste Fluminense, em consequência da chuva da noite de quarta-feira (11/12). Segundo a defesa Civil, choveu aproximadamente 71 milímetros no município (...) O maior problema do município é em relação à topografia, que é muito acidentada, o que facilita a formação de enxurradas e escorregamentos”.


Observemos que os rios Itabapoana, Paraíba do Sul e seus afluentes Muriaé (este com o subafluente Carangola) e Pomba, bem como a bacia do Macaé foram afetados. Só o pequenino rio Guaxindiba não é mencionado, mas ele também foi atingido. 

Deslizamento de terra em Varre-Sai em dezembro de 2013

Bacia do Paraíba do Sul

Valão Dantas


Ainda o site Ururau noticiou, em 5 de dezembro de 2013, que os valões Dantas e Cristalina haviam transbordado em Cambuci: “Após o trasbordo dos valões Dantas e Cristalina em Cambuci, que causou o desalojamento de diversas famílias na tarde de quarta-feira (04/12), uma força tarefa foi montada nesta quinta-feira (05/12) para realizar a limpeza de casas e ruas (...) O transbordamento ocasionou o alagamento dos bairros Guarani, Suburbano e Centro, que são cortadas pelo Dantas, e Miguelito e Floresta, cortados pelo Cristalina.”  


O valão Dantas nasce na serra do Monteverde e desemboca no rio Paraíba do Sul. É um curso d’água pequeno e pouco conhecido. O desmatamento da serra e a canalização do rio no seu trecho final agravam fenômenos causados por chuvas. O autor dessas linhas inspecionou o córrego tão logo as chuvas amainaram. Agnaldo Vieira, prefeito de Cambuci na época, acusava a população de ter aterrado um trecho do córrego. Ele afirmava que pretendia contar com o apoio do INEA para restabelecer o curso original. Na verdade, ele queria remover um meandro do córrego para abreviar o fluxo das águas. O procedimento está ultrapassado. Sabe-se hoje que a retilinização de um rio contribui para enxurradas.

Meandro que a prefeitura de Cambuci desejava remover depois da enchente de 2013


Rio Carangola


As chuvas e a escassez delas não conhecem limites artificiais traçados pelos seres humanos. Em dezembro de 2013, choveu em vários pontos do Brasil. Na ecorregião de São Tomé, as bacias mais atingidas foram a do Itapemirim, a do Itabapoana e a do Macaé. A larga calha do rio Paraíba do Sul suportou o volume das águas precipitadas, mas seus afluentes e subafluentes transbordaram. O Carangola é afluente do Muriaé, que, por sua vez, é afluente do Paraíba do Sul. 


Embora corra em zona serrana da nascente à foz, o rio Carangola sofreu processos de canalização, como informa a foto abaixo. Canalização é o mesmo que retilinização, ainda conhecida como retificação. Ora, retificar é um verbo que indica reparar, consertar. Parte-se da premissa de que o curso de um rio é errado e que a retificação efetua nele uma correção. Remover meandros, como já se viu no caso do valão Dantas, não corrige nada. Apenas acelera a velocidade das águas, aumentando problemas de transbordamento. Quase todos os rios de vazão expressiva passaram por esse processo nos seus trechos de planície entre 1935 e 1990, período em que dominou a Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, depois Departamento de Obras e Saneamento. Os casos mais ilustrativos são os dos rios Ururaí, Macaé, São João, Una, os rios da planície de Sepetiba e muitos outros.

Trecho canalizado do rio Carangola em antiga foto


Em conjunto com o desmatamento, a canalização de um rio favorece os transbordamentos, pois a falta de florestas permite que as águas pluviais corram mais facilmente sobre o solo desnudo, provocando erosão, transportando sedimentos para os leitos dos rios e os tornando túrbidos e assoreados. No vale do Carangola, os núcleos urbanos que se ergueram em suas margens sofrem frequentemente com enchentes, como se verificou neste início de 2021. Consta que Porciúncula sofreu a mais devastadora enchente da sua história. Em 2013, o transbordamento do Carangola mais uma vez transformou as ruas da cidade numa rede fluvial.

Enchente do Carangola em 2013, inundando Porciúncula

Rio Muriaé


Em 12 de dezembro, o Jornal Ururau noticiou: “De acordo com o Sistema de Alerta de Cheias, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as cidades de Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, que são cortadas pelo Rio Muriaé, estão em alerta máximo.”


Também o rio Muriaé transbordou em vários pontos. Nas cidades, esses extravasamentos são mais percebidos pela maior concentração de pessoas e pela ocupação de áreas de risco pelas populações mais pobres. Em Laje do Muriaé, as pessoas com muitas posses ou com posses medianas ocuparam as margens do rio. As pobres foram empurradas para áreas mais altas. Se não sofrem transtornos causados pelos transbordamentos, são afetadas pelos deslizamentos. Laje do Muriaé também ficou em baixo d’água, como mostra a foto a seguir.

Laje do Muriaé em dezembro de 2013

O jornal que mais noticiou casos de transbordamento e inundações, em 2013, foi Ururau, divulgado por meio eletrônico. No fatídico 13 de dezembro, ele noticiava que “Em Itaperuna famílias já estão desalojadas e pelo menos cinco bairros sofrem com alagamentos. O momento em que o Muriaé chegou ao ponto máximo foi por volta de 0 h, da madrugada de 13/12, quando aos 4,95 m ficou 85 cm acima de sua cota de transbordo. Com isso os bairros do Frigorífico, Canela, Niterói, Centro e Boa Vista ficaram com ruas alagadas.”

Transbordamento do Muriaé em Itaperuna – dezembro de 2013

Cardoso Moreira, último município criado às margens do Muriaé, também sofreu com as chuvas de 2013. Os fundadores do lugar escolheram o pior ponto para construir casas e ruas: uma depressão facilmente alagável. Na verdade, uma área de expansão do rio.

Enchente de 2013 em Cardoso Moreira

Já no município de Campos dos Goytacazes, a localidade de Três Vendas ergueu-se numa área extremamente vulnerável a enchentes. Em 2012, ela sofreu intensamente com o transbordamento do rio Muriaé, que destruiu diques e rompeu a rodovia federal BR-356, uma espécie de dique cortando a imensa área de expansão do rio em sua margem esquerda. Ainda recorrendo a Ururau, em sua edição de 5 de dezembro de 2013, lemos: “Uma equipe da Defesa Civil Municipal esteve na localidade de Três Vendas nesta quinta-feira (05/12) realizando intervenções na vala de drenagem, que estava obstruída, principalmente, por lixo, descartado irregularmente. Segundo o subcomandante, Edson Pessanha, o nível do Rio Muriaé está dentro de sua caixa de capacidade, mas o órgão continua acompanhando de perto a situação da localidade. Ele afirma que o vazamento da água do rio nas ruas de Três Vendas, através das infiltrações que surgiram no dique, diminuiu devido à redução do nível do Muriaé. ‘Estamos preocupados com a situação da localidade devido à proximidade com o rio. No momento, a situação é mais tranquila porque o nível do rio baixou’”.


Campos


No seu trecho final, o Paraíba do Sul suportou bem o volume de água recebido ao longo do seu curso e por adução de seus afluentes. Mas, como é comum acontecer, as copiosas chuvas alagaram áreas da cidade onde, outrora, existiam lagoas que foram mal drenadas e tiveram seus leitos impermeabilizados pela urbanização. O ponto mais conhecido é aquele em que existia a lagoa do Furtado ou do Osório, parcialmente drenada pelo canal Campos-Macaé. Posteriormente, ele foi totalmente drenada e impermeabilizada. A ponte Leonel Brizola, descendo sobre seu antigo leito, funciona hoje como um rio afluente. As chuvas caem sobre a ponte e correm para a antiga lagoa. É até ocioso ilustrar os alagamentos frequentes nesse local, mas a charge publicada na imprensa captou bastante bem a incapacidade ou inépcia do poder público local em resolver o problema. 

Sistema Ururaí

Usa-se o nome Ururaí para designar um sistema hídrico complexo por ser formado por rios e lagoas. Ele começa com os rios Imbé e Urubu. Todo ele correndo em zona serrana, o Imbé coleta águas de pequenos rios que descem da Serra do Mar (com o nome local de Imbé). Os dois desembocam numa depressão e formam a lagoa de Cima. Esta deflui na ponta oposta pelo rio Ururaí, que desemboca, por sua vez, na grande lagoa Feia. Esta chega ao mar pelo canal da Flecha. O desmatamento da zona serrana e a canalização parcial dos rios que compõem o sistema favorecem as enchentes. A maior de todas ocorreu em 2008-09.


Sempre seguindo o Ururau, lê-se que o “Rio Ururaí já desalojou mais de seis famílias e até nesta manhã chegou a 3,60 m. ‘Os moradores de Ururaí precisam ficar em alerta máximo por causa do aumento do nível do rio que corta a localidade. Ainda tem muita água para chegar ao Rio Ururaí.’ Esse foi o alerta do secretário da Defesa Civil de Campos, Henrique Oliveira, na manhã desta quinta-feira (05/12). Em menos de 24 horas o nível do rio aumentou 4cm. Às 16h dessa quarta-feira (04/12) o nível era de 3,56 m e já na última medição, às 8h desta manhã, o Rio Ururaí marcava 3,60 m. Ou seja, faltam apenas 20 cm para alcançar o nível de transbordo que é de 3,80 m. O secretário explicou que o volume da água que está previsto, vem da região do Imbé e de Lagoa de Cima. Algumas pessoas acham que o rio só enche quando cai uma grande tempestade no local, mas esse não é o caso em Ururaí. A água vem da região do Imbé, chega a Lagoa de Cima e desemboca no Rio Ururaí, que por sua vez, distribui a água em toda sua extensão. A estrada que dá acesso à região do Imbé já está inundada. Segundo a Defesa Civil, apenas com carros grandes, como pick-up ou com barcos é possível acessar o local. Mesmo com o nível alto nenhuma casa do Imbé e da Lagoa de Cima foi invadida pela água.”


Bacia do Macaé


Em 2013, fazia tempo que Macaé não sofria tanto com as chuvas, transbordamentos e alagamentos. Cumpre lembrar que o rio Macaé foi canalizado em seu trecho final para drenar o Brejo da Severina e que a cidade se expandiu sobre áreas pantanosas com o advento da Petrobras. Tanto o brejo quanto essas áreas funcionavam como esponjas que retinham água de chuva e de cheia.


Novamente, é a edição de 12 de dezembro do Ururau que traz a informação: “Em Macaé, as máquinas executaram serviços de desobstrução das seguintes vias, que encontravam-se em situação de risco: Bairro Aroeira, Riviera Fluminense e Riviera Fluminense II.”

Enchente de 2013 em Macaé

Não faltou também o tratamento da questão em charge, assim como aconteceu em Campos dos Goytacazes.

Charge de Ivan Cabral sobre a enchente de Macaé em 2013


Outros lugares

Região dos Lagos


Limitando-se com a Ecorregião de São Thomé pelo rio Macaé, a Ecorregião dos Lagos também enfrentou problemas com as chuvas de 2013. Em 20 de dezembro, noticiava-se que “A cidade de Búzios está se recuperando dos danos causados pelas fortes chuvas que atingiram a região. O volume de água da chuva foi o maior registrado nos últimos 17 anos. O dado da estação meteorológica instalada no campo de golfe de Búzios constatou que o volume de água gerado pela chuva chegou a cerca de 180 milímetros. Em apenas duas horas de chuva, o volume registrado foi 60 milímetros superior à média dos meses de dezembro, nos últimos cinco anos. A média anual registrada em Búzios é de aproximadamente 800 milímetros.


Três dias depois a Folha de Búzios informava: “O Prefeito vem trabalhando, junto com todas as secretarias, para solucionar o problema de escoamento da água em bairros como Cem Braças, Rasa e Baía Formosa. As ações seguem ininterruptamente desde o dia 18, com desassoreamento e drenagem dos canais, além de aberturas em pontos estratégicos da cidade. Foram reforçadas com 13 bombas de sucção de grande porte (cuja capacidade de absorção varia entre 5 mil a 8,3 mil litros/minutos) nos principais pontos de alagamento. As bombas estão distribuídas em Manguinhos, Tucuns e Cem Braças, dentre outras localidades.”

Alagamento de Búzios em dezembro de 2013

Arraial de Búzios instalou-se e cresceu num promontório paradisíaco, mas impróprio a uma urbanização densa, como a que se assiste hoje. No interior desse promontório, há uma parte baixa com lagoas que se comunicam com a praia por canais naturais. O adensamento urbano com a construção de prédios, a poluição e a invasão desses canais naturais de drenagem acabam acarretando os problemas ocorridos em 2013. Os canais de Manguinhos e de Barrinha foram assediados pela cidade. Com chuvas abundantes, as águas buscam seus caminhos naturais. Encontrando obstáculos, as águas pluviais de acumulam no interior urbano.


Rio de Janeiro


Quanto à cidade do Rio de Janeiro, colhemos informações no Jornal do Tempo, edição de 11 dezembro de 2013: “O temporal que atingiu o Estado do Rio de Janeiro provocou caos, com ruas alagadas, postes e árvores caídos, desabamento e uma morte. Todos os rios do Estado estão em estado de atenção, e os Rios Pavuna e Rio Botas estão em alerta máximo neste momento, segundo o Inea. Algumas linhas de trens e ônibus não estão circulando devido às ruas alagadas. O grande volume de água nos trilhos impediu o funcionamento do metrô, que precisou fechar cinco estações. A chuva forte fez com que moradores de 16 comunidades do Rio deixassem suas casas por conta do risco de desmoronamento. Os moradores de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ficaram em alerta, já que o nível do Rio Botas ficou acima da média e com risco de transbordamento. As ruas do Centro da cidade ficaram completamente alagadas. As Bacias de Jacarepaguá, de Guanabara e da Baía de Sepetiba entraram em estágio de alerta nesta quarta-feira devido às intensas chuvas.” 


E continuando: “A média de chuva em dezembro para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro é de 170 mm. Em muitos bairros da capital e na Baixada Fluminense choveu o normal de todo o mês em menos de 24 horas. Em alguns pontos da Capital o acumulado de chuva desde a noite de ontem já se aproxima de 200 mm. É o caso de Nova Iguaçu com 166,6 mm, em apenas 24 horas a chuva superou em 23% todo o esperado para o mês de dezembro. O volume alcançou os 130,6 mm no Clube XV e 138 mm em Guadalupe, bairros da região da Baixada, dados do Alerta Rio. Em Madureira choveu 132 mm nas últimas 4 horas e alcançou os 200 mm.”


O caso do Rio de Janeiro já é bastante conhecido. Em 1929, o engenheiro campista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito escreveu um artigo bastante ilustrativo sobre o problemas das enchentes na cidade (As inundações do Rio de Janeiro. “Jornal do Comércio”, 26/04/1930). 


Bacia do rio Doce


No âmbito da bacia do rio Doce, norte do Espírito Santo, também choveu muito. Essa bacia é bastante semelhante a do rio Paraíba do Sul no seu trecho final. O mapa abaixo ilustra o volume da precipitação pluviométrica no início de dezembro de 2013.

Precipitação pluviométrica em 18 de dezembro de 2013

Colatina e Linhares, no final do rio, ficaram embaixo d’água.

Colatina no início de dezembro de 2013


Bahia


Finalmente, nos registros que colhi em dezembro de 2013 para redigir um artigo, existe uma informação publicada no “Correio” sobre as chuvas caídas em Lajedinho: “Olhando de cima, a cidade de Lajedinho, localizada na Chapada Diamantina, a cerca de 350 quilômetros de Salvador (BA), parece um monte de entulho. O cenário desolador foi provocado por uma tromba d’água que atingiu o município. Somente nesta segunda-feira, foram encontrados seis corpos, conforme a Defesa Civil, numa região distante da cidade. Eles teriam sido levados pela correnteza do Rio Saracura, que transbordou. O município de Lajedinho é um dos menores da Bahia, com pouco mais de quatro mil habitantes. A precipitação devastadora pegou todos de surpresa, visto que há anos não chovia forte na região - o local enfrentava problemas de seca. Entre o fim da noite de sábado (7) e o início da madrugada de domingo (8) choveu 120 milímetros no local, o que equivaleria a mais de dois meses de precipitação. ‘A estiagem prolongada deixou o solo impermeável, bloqueou a entrada da chuva e a água escorreu pelos vales, atingindo a cidade em cheio’, afirma o prefeito’.” 

Destruição de Lajedinho (Ba) provocada pelas chuvas de dezembro de 2013


Fontes de consulta

  • BLOG DO FREDERICO SUETH. Prefeitura de Campos dos Goytacazes estende a mão para BJI. 12 de dezembro de 2013.
  • BRITO, Francisco Saturnino Rodrigues de. As inundações do Rio de Janeiro. Jornal do Comércio”, 26/04/1930.
  • BÚZIOS. Búzios se recupera dos danos causados pela chuva. 20 de dezembro de 2013 
  • CORREIO. Chuva forte em Lajedinho deixa oito mortos na noite de sábado. Bahia, 8 de dezembro de 2013. 
  • FOLHA DE BÚZIOS. Búzios recebe presidente do INEA para definir novas ações para o balneário. 23 de dezembro de 2013. 
  • INCAPER. Chuva causa transtornos ao Sul do Espírito Santo, 12/12/2013. 
  • JORNAL DO TEMPO. Temporais continuam no RJ, volume de chuva em apenas 24 horas alcança o esperado para o mês inteiro. Rio de Janeiro, 11 dezembro de 2013. 
  • URURAU.  Defesa Civil: “Os moradores de Ururaí têm que ficar em alerta máximo”. Campos dos Goytacazes, 05 de dezembro de 2013. 
  • URURAU. Cambuci: mutirão realiza limpeza de ruas e estradas após enxurrada. Campos dos Goytacazes, 05 de dezembro de 2013.
  • URURAU. Chuva: deslizamento de encostas destrói duas casas em Varre-Sai. Campos dos Goytacazes, 12 de dezembro de 2013. · 
  • URURAU. Estado envia máquinas para municípios fluminense atingidos pela chuva. Campos dos Goytacazes, 12 de dezembro de 2013. · 
  •  URURAU. Rio Muriaé transborda e deixa cinco bairros inundados em Itaperuna. Campos dos Goytacazes, 13 de dezembro de 2013. 
  • URURAU. Três Vendas: Defesa Civil faz limpeza na vala obstruída por lixo. Campos dos Goytacazes, 05 de dezembro de 2013.


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