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Reprises de novelas superam expectativas de audiência na quarentena

© Divulgação / TV Globo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio à pandemia de coronavírus, a televisão tem sobrevivido do passado. Com a produção de novelas, séries, filmes e até programas de variedades congelada, o diminuto vácuo deixado pela extensa programação jornalística atualmente nas telas têm sido preenchido por conteúdos que raramente são inéditos.

Repetir o que todo mundo já viu, tramas para as quais já sabemos o desfecho, não dá audiência, alguns podem dizer. Mas a verdade é que as reprises estão dominando a atenção daqueles confinados em casa sem grande esforço.

Os catálogos do streaming e as lives sertanejas não foram suficientes para aplacar a fome de conteúdo do espectador em quarentena, que tem devorado também a programação da TV aberta e da paga, segundo dados do Kantar Ibope Media. E, nelas, o que normalmente se vê são novelas já exibidas ou episódios passados de programas diversos. Até mesmo jogos de futebol estão sendo reprisados.

A reexibição da final da Copa do Mundo de 2002, em 12 de abril, superou as expectativas da Globo, marcando 21 pontos no Ibope em São Paulo, dois a mais do que a média do horário aos domingos.

Já "Fina Estampa", novela de 2011 atualmente transmitida em edição especial na faixa das nove da emissora, também tem apresentado bons números. Sua média de audiência até agora, também em São Paulo, é de 34 pontos. "Amor de Mãe", que a trama de Aguinaldo Silva está substituindo, penou até começar a registrar audiência superior aos 30 pontos.

Mas engana-se quem pensa que esse poder de atração de conteúdos antigos é exclusividade da quarentena. O vintage tem tanto apelo popular que a Globo dedica, desde 1980, uma faixa exclusiva da programação para reprises de novelas, o Vale a Pena Ver de Novo.

A empresa também tem um canal inteiramente pensado para tirar tramas do baú, o Viva, que lidera a lista de audiência da TV por assinatura no total do dia desde janeiro, muito antes de o coronavírus obrigar as pessoas a ficarem em casa.

No caso do Vale a Pena Ver de Novo, a aposta agora é em uma trama que deve mobilizar o público ao dar alento àqueles agoniados com a crise que toma conta do Brasil - em contraste com "Avenida Brasil", que estava sendo reprisada até semana passada, mas que alcançou amplo sucesso de audiência, com 19 pontos de média parcial, a melhor em São Paulo desde 2010.
As vilanias de Carminha serão substituídas, a partir desta segunda-feira (27/04), pela leveza e o humor de "Êta Mundo Bom!", que chega com a tarefa de dar um respiro às amargurantes informações que têm dominado o noticiário.

Para o autor Walcyr Carrasco, o folhetim será fiel à vocação que sempre teve: a de levar otimismo às pessoas. "As pessoas gostam de achar que o mundo pode ser melhor", diz o autor. "A novela traz uma mensagem positiva, pra cima. É do que mais precisamos hoje em dia."

Na trama, um rapaz do interior pega o trem rumo à São Paulo dos anos 1940. Simples e ingênuo, Candinho está em busca da mãe, de quem foi separado quando nasceu. O bucolismo no qual cresceu contrasta com a já não moderna metrópole, por meio de uma trama cheia de comicidade -característica indissociável do diretor Jorge Fernando, morto em outubro e a quem Carrasco atribui parte do sucesso de "Êta Mundo Bom!".

"Essa coisa de reprises tem como objetivo atingir um imaginário, uma nostalgia da audiência", diz o professor Rogério Ferraraz, da Universidade Anhembi Morumbi. Para ele, ao ligar a televisão e se deparar com uma história conhecida, o espectador encontra conforto. Essa sensação é ainda mais forte nos tempos atuais, de incerteza e ansiedade.

"Nos momentos de graves crises, de dificuldade, as pessoas buscam referências em um passado considerado utópico", afirma Ferraraz.

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