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Caso Alinne Araújo: como se proteger de ataques virtuais

Caso da Youtuber Alinne Araújo obrigou internautas a repensarem suas posturas nas redes sociais

A influencer Alinne Araújo se suicidou na segunda-feira (15), após ser vítima de comentários maldosos na internet. As críticas começaram após a blogueira contar que iria se casar sozinha no domingo, pois seu parceiro havia desistido do relacionamento no dia anterior à festa.

Como tudo já estava pago, ela decidiu dar continuidade à celebração. "Poderia ficar aqui chorando, mas tem uma festa linda me esperando, então hoje caso comigo mesma em nome da minha vida nova. Me desejem sorte. Amo vocês", disse em suas redes sociais.

Após compartilhar fotos e vídeos do casamento no Instagram, grande parte de seus seguidores começou a atacá-la, dizendo que ela estava tentando se promover com o término. Fragilizada com a sucessão de eventos angustiantes em sua vida, Alinne acabou se jogando do nono andar do prédio em que morava. A influencer já havia contado em outras ocasiões que sofria com depressão e ansiedade.

O lado problemático das redes sociais
Casos como o de Alinne nos relembram do aspecto inconstante das redes sociais. Estar conectado a tantas pessoas pode potencializar a nossa autoestima, e nos dar a sensação de que pertencemos a algo.

Porém, qualquer passo em falso pode trazer uma tempestade de comentários ofensivos, que podem ecoar dentro de nós de maneira destrutiva, nos fazendo acreditar que as outras pessoas têm o poder de nos definir através das palavras.

Por que as pessoas atacam com facilidade nas redes sociais

Antes de compreender a agressividade semeada nas redes sociais, é importante entender o funcionamento da plataforma. Segundo a psicóloga Raquel Baldo, a realidade virtual é uma extensão da vida em sociedade, diferenciando-se do convívio físico apenas pela rapidez da comunicação, que não possui grandes barreiras.

A facilidade, acoplada ao imediatismo da internet, faz com que todos nós falemos uns com os outros, sem precisar refletir sobre o impacto de nossas palavras. Além disso, somos protegidos por nossos dispositivos, que nos impedem de lidar com consequências presenciais.

"Antes era necessário tomar cuidado com a fala, estruturar pensamentos e ter cautela com atitudes, já que a relação, quando muito direta, pode trazer resultados negativos imediatos. Já nas redes sociais, nós temos a fantasia do anonimato e da proteção. Com isso, nosso filtro comportamental fica enfraquecido", explica Raquel.

Temos desejo por plateia

Historicamente, a sociedade promove eventos que evidenciem o sofrimento alheio. Praças com pessoas enforcadas, e mulheres acusadas de bruxaria sendo queimadas publicamente são apenas alguns exemplos. Todos esses acontecimentos eram acompanhados de plateias, que reagiam intensamente à desmoralização do próximo.

Séculos depois, este cenário transferiu-se para dentro das telas. A psicóloga afirma que quem julga nas redes sociais, não faz isso sozinho. Existem pessoas que apoiam esse comportamento e se sentem entretidas. Todos esses fatores alimentam necessidades primitivas do ser humano, como o desejo de ser notado a qualquer custo.

Além dos ganhos emocionais, existe a falta de limites claros no ambiente virtual. A escassez de leis e valores apenas instiga a impulsividade dos usuários, que deixam a empatia de lado para corresponder seus desejos a qualquer custo.

Como se proteger das críticas

É difícil não se sentir magoado com comentários maldosos. Para Raquel Baldo, isso acontece pelo fortalecimento constante da linguagem na internet. "Hoje podemos ver, ouvir e avaliar o outro", explica. Por isso, sempre esperamos um retorno de nossas ações virtuais, o que já aumenta o impacto das redes sociais em nosso emocional, já que de uma forma ou de outra, estamos mantendo relacionamentos.

É nesse momento que a seletividade pode ser uma ferramenta útil. De acordo com a especialista, quando nos atentamos a quem mantemos por perto nas redes sociais, acabamos filtrando e diminuindo a incidência de eventos estressantes, partindo do preceito de que iremos fazer amizade e compartilhar nossas vidas com quem confiamos ou temos afinidade.

Existem verdades diferentes

Para não acreditar que as críticas alheias nos definem, é necessário olhar para dentro de si e estimular a própria segurança. "A verdade que estrutura as nossas vidas nem sempre é compatível com a dos outros", diz a psicóloga.

Portanto, conhecer a própria realidade já nos faz entender que opiniões divergentes podem coexistir em um mesmo ambiente. "Desapegar-se do certo e errado também pode ajudar. Não existem caminhos únicos de enxergar a vida. Aceitar isso pode diminuir o impacto do ataque recebido", esclarece.

As redes quebram nossas barreiras

Raquel alerta que as redes sociais destroem nossas barreiras, por conta da exposição. Por isso, é importante fortalecer a autoestima, para entender que não há problemas em ficar triste com críticas.

Mas após as reações emocionais, é importante racionalizar os acontecimentos. "Será que eu fiquei chateado com o que li por me identificar com as ofensas? Será que preciso buscar ajuda? As pessoas que apontaram meus defeitos são saudáveis? Todos esses questionamentos aguçam nossa seletividade, e nos fazem iniciar um processo de autocuidado", afirma.

O que fazer no momento do ataque

Quando nos expomos nas redes sociais, alimentamos a fantasia do próximo de que agora ele tem o direito de invadir o nosso espaço. Isso não significa que temos culpa. Entretanto, a estrutura da internet permite esse pensamento nas pessoas.

Portanto, antes de tudo, Raquel indica que pensemos em qual porta abrimos para sermos atacados. "Bloquear, filtrar nossos amigos virtuais, repensar sobre as páginas que visitamos, e avaliar o que compartilhamos pode prevenir o desconforto", indica.

Não se esqueça de que muitos usuários não refletem sobre o que falam. Para Raquel, em discussões nas redes sociais, muitos se preocupam apenas em ter razão e ganhar uma briga. Portanto, não se martirize tentando racionalizar ações emocionais.

"As pessoas levam seus tabus, crenças e frustrações para a história dos outros, o que causa um impacto emocional de proporções gigantescas, como aconteceu no caso de Alinne", alerta.

Portanto, a melhor forma de ter uma vida saudável na internet, é se fortalecendo como pessoa. "Trabalhe sua autoestima, sua estrutura psíquica e priorize sua vida real", conclui Raquel.



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